terça-feira, 12 de março de 2013

Fernão, Mentes? Minto...



Tão espantosas são as coisas que contas...








"E nisto vieram a parar meus serviços de vinte e um anos, nos quais fui treze vezes cativo e dezasseis vendido, por causa dos desaventurados sucessos que atrás, no discurso desta minha tão longa peregrinação, largamente deixo contados..."

(excerto de "A Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto)



Viajante, aventureiro, explorador e escritor português do século XVI, Fernão Mendes Pinto nasceu por volta de 1509/1511 (*), no seio de uma família pobre da «vila de Montemor-o-Velho», e faleceu no Pragal, Almada, a 8 de Julho de 1583.

Sabemos que veio para Lisboa em 1521 (**) e, em Março de 1537, inicia a sua fantástica Peregrinação, partindo para a Índia. Alcançou a barra de Diu, em Setembro desse mesmo ano, e poucos dias depois ia a caminho do Mar Vermelho, dando início a um percurso épico e atribulado, espelho do que foi a vida de muita gente lusa, deambulando pelas terras do Oriente do século XVI.

Fernão Mendes Pinto é um exemplo dessa diáspora lusa, navegando daqui para ali, comprando e vendendo o que havia, e sonhando com o regresso à sua terra. 

Por mais de vinte anos percorreu os mares do Oriente, passando por Pegu, Sião, Malaca, Samatra, Java, China e Japão.

Deixou-nos um relato de todas estas viagens e aventuras, a que chamou "Peregrinação". 
A sua obra tem sido alvo de considerações e críticas diversas, contestando os factos descritos e acusando-o de efabulação. Daí o trocadilho com o nome do autor (Fernão, Mentes? Minto.).

Peregrinação é, também, um testemunho da vida nos mares do Oriente, no século XVI: as noites de chuva, o vento que rasga as velas, as amarras que partem, as vagas que varrem o convés, o sono, o cansaço, a fome, o medo, são elementos legítimos e verdadeiros da narrativa, tão intensos como a própria realidade.

Talvez que o julgamento da sua obra como mentirosa e o trocadilho com o nome do autor possam ser melhor compreendidos à luz das espantosas, notáveis e estranhas coisas que viu e que conta, e da descrença que provocavam em todos aqueles que nunca tinham viajado. E também pelo incómodo causado com a sua descrição de reinos, terras e gentes do Oriente...

Escreveu este magnífico texto quando já vivia na sua Quinta do Pragal, onde passou os últimos 25 anos da sua vida e onde veio a falecer.


(*) "Assim situam o seu nascimento a maioria dos biógrafos, baseados no que o autor nos diz na sua obra, ao afirmar que tinha 10 ou 12 anos quando morreu o rei D. Manuel I, no dia de Santa Luzia, em 13 de Dezembro de 1521."

(**)  "Conforme recorda o autor, porque um seu tio o trouxe para Lisboa no dia em que «se quebraram os escudos pela morte de El-Rei...»."


Mais info

Biblioteca Nacional de Portugal - Digital Peregrinação

CVC - Instituto Camões Biblioteca Digital Camões Fernão Mendes Pinto, Sátira e Anti-Cruzada na Peregrinação (Autor: Rebecca Catz)
 
(Maria, 12-03-2013)



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