quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Seres de Terra-Mar




Imagem: Trilhos de Terra-Mar. Portugal, Out. 2017.

Há um brilho de luz a arder
que leva seres da terra ao mar,
Há um trilho de névoa cinza
que entristece a sua alma.

Há passos, tempos, memórias,
vidas apagadas, que se arrastam de trás.

E trás! Soam os seres
que sós caminham
deixando os escombros e as sombras
e a terra de antepassados.

E de novo, mais e mais uma vez...
Transfigurai-vos, seres de Terra!
Procurai-vos no Mar.




(Maria, 19-10-2017)

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Chapéus-de-sol


Imagem 1: "Chapéu-de-sol". Set. 2017, Portugal.
 
 
Quando chega o fim do verão
os chapéus descem lá dos céus
dão uma reviravolta
assentam-se no chão
e em posição assim ficam
apanhando os últimos raios de sol.

Ficam no morno do ar e da areia
deixando-os passar passar
até à próxima estação...

São guardadores de sol, os chapéus.
Conhecedores de ventos e raios,
de sal, memórias e pensamentos,
de fusos e horários,
de gentes.
 
 
 
Imagem 2: "Chapéus-de-sol". Set. 2017, Portugal.
 Maria, 04-10-2017

sábado, 27 de maio de 2017

Lembras-te?...


«Debaixo de tanto calor,
o pássaro arranjou um ramo verde e fresco,
e pôs-se a falar.

O pássaro perguntava-me:
"Lembras-te das grandes árvores,
com lágrimas douradas de resina?"

Respondi-lhe que sim, que me lembrava,
que naquele tempo ouvíramos falar em âmbar,
e queríamos fazer colares de resina:
mas em nossas mãos ela perdia a transparência.

"Lembras-te dos cajus maduros,
caindo fofamente na folhagem morta do chão?"

Respondi-lhe que sim, que ainda os via,
muito longe, amarelos e túrgidos,
às vezes, rebentados, na queda,
escorrendo, perfumosos, sumo doce.

"Lembras-te das rodelinhas douradas
que a folhagem e o sol balançavam por cima dos livros?"

Respondi-lhe que sim, e que eram livros de histórias,
e foram depois romances, e um dia poemas,
e mais tarde pensamentos difíceis...

E o passarinho perguntava:
"Lembras-te da tua voz devolvida pelo eco?"

E eu me lembrava, mas não das palavras,
só que as respostas eram sempre incompletas.

"E o recorte da montanha, no horizonte,
lembras-te como era azul e negro? E as palmeiras?
E as sebes de flores encarnadas?"

E eu me lembrava de tudo, e sentia o aroma da tarde,
e o canto das cigarras, e o lamento dos sabiás
e das rolas,
e via brilhar a bola azul do telhado, que amei tanto,
e sentia, tão doce, a minha perpétua solidão.

E perguntei ao pássaro:"Onde estavas,
para me perguntares tudo isso?
Também já viveste tanto?"

E ele me respondeu: "Não, tudo isso está no fundo dos teus olhos.
Eu só vou perguntando o que estou lendo...
E, porque o leio, canto."»
(Cecília Meireles, Diálogos do jardim)

Foto: Encontro com um passarinho. Maio de 2017, Portugal.

De vez em quando, 
é bom parar para escutar o pássaro a cantar.

Maria, 27-05-2017

terça-feira, 18 de abril de 2017

A Porta...


    Perguntei à porta: Quantos anos tens?

 A porta (esta porta)
Imagem: Mosteiro dos Jerónimos, Santa Maria de Belém (1). Lisboa, Portugal.
respondeu-me:
- Bem, estou aqui desde que o mosteiro foi edificado e concluído, o que aconteceu aproximadamente em 1580.
Pensei: ou a porta perdeu a memória, ficou louca e perdeu-se no tempo ou o tempo que passou por aqui não encontrou a porta para passar...
 
Imagem: Mosteiro dos Jerónimos, Santa Maria de Belém (2). Lisboa, Portugal.

Há sítios assim...
Gosto de me encontrar com eles... entrar, ouvi-los contar, brincando com o tempo o tempo todo, mesmo mesmo ao nosso lado no tempo.    
Maria

Correntes humanas...



Muito obrigada pela oportunidade de me juntar a todos vós

 _/\_

Imagem: "IMiF, International Minds in Finland" in Human Currents - Book Launch Lisbon, 17 Ap, 2017.


Gostei muito de vos ouvir e de conhecer as vossas experiências de vida 
:)

Imagem: "Human Currents" Book.
Imagem: "Human Currents" (p.1)
Imagem: "Human Currents" (p.3)
Imagem: "Human Currents" (pp.8-9).
Imagem: "Human Currents" (p.7)

E também de conhecer de perto a

ParaBéns a todos!
E muito obrigada
_/\_
Um abraço \o/ 
Thank You
Maria 

«We're of different races, cultures & traditions
 sharing a common planet Earth
 "clearly ocean" blue
 full of visible and invisible bridges
 that floats in an immense unknown universe.
      The fool uses that as a tool of division.
The wisw man sees it as a reason for celebration.»

domingo, 16 de abril de 2017

Gracinha menina...



Minha Mãe, minha amiga,
já te disse como és bonita?
E como gosto tanto, tanto,
de te abraçar e beijar,
e com meus braços e passos te acompanhar?
Um a um, e todos juntos, quero que saibas...
E tu sabes bem! Cá estamos, cheios de gratidão, para contigo todos os dias a vida celebrar.
Mas hoje és especial.

Hoje és a menina que nasceu pequenina e franzina, e que sobreviveu por milagre.
Hoje és a criança que cresceu entre pais e avós e muitos irmãos que te chamavam Gracinha e mãe.
Hoje és a jovem que viveu no campo e na cidade, em Portugal e na distante Angola, que tu tanto recordas, e contas como foi lá que aprendeste a andar, e cair, de mota.
Hoje és a mulher que amou meu pai e que quiseste ter a teu lado a sua vida inteira. Sua companheira, esposa, e minha mãe.
Hoje és a mãe que sempre esteve presente, quando meu pai, longe, não podia estar. E hoje, naquele sítio mesmo longe, onde ele está, para onde se vai com a eternidade, continuas a amar e estar.
Hoje és a avó que sempre dá e ensina e ama e pacientemente está.

Hoje és a menina guerreira, que sempre lutou e me ensinou a estar e a acreditar que sim, que existem milagres.
Obrigada, Mãe.
Maria, 15 Ab 2017

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Às vezes...


Imagem: "Ar Co-Íris". Portugal, Fev. 27, 2017.
 
 
Às vezes aqui faz frio...
E chove, troveja, neva,
E abre o sol, e fecha,
De fio a pavio!

É o tempo que somos... 
e agora?


Às vezes aqui faz cor...
e sempre que a terra e o céu
choram lágrimas de amor,
há escadas coloridas,
e pontes em ar co divinas...