sábado, 29 de dezembro de 2012

2012@2013



Para ganhar um ano novo...
mexa-se e remexa-se,
tente e experimente,
atreva-se, consciente.
Desafie o impossível
que o novo, em si, cochila
e o espera... desde sempre!


Força para todos@nós 
aBraço, Maria







"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens (...)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."

Carlos Drummond de Andrade, «Receita de Ano Novo».

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Abraço...



Rodar em rotação
em nossa Terra circular
É rodar redondo,
a todos abraçar.
 
É mover juntos, 
em translação, rodopiar,
dar sentido à razão
e brilho ao coração.
 
É voar por inteiro,
embalados por constelação
que nos há-de transformar
e a novo universo, chegar...



Abraço para todos, Maria



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Redescobrindo a aldeia...


... com "As Pupillas do Senhor Reitor" :)


Julio Diniz (pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nascido no Porto a 14 de Novembro de 1839), 
o escritor da fraternidade, do optimismo, dos sentimentos sadios do amor e da esperança.


«José das Dornas era um lavrador (...) sadio e de uma feliz disposição de genio, que tudo levava a rir; mas d'esse rir natural, sincero e despreoccupado, que lhe fazia bem (...).
Era-lhe familiar o canto matinal do gallo, e o amanhecer já não tinha para elle segredos não revelados. O Sol encontrava-o sempre de pé, e em pé o deixava ao esconder-se...»






"Carta ao Editor

(Carta que servia de prologo em 1875 á edição portugueza das «Pupillas do Senhor Reitor», feita em Leipzig (Allemanha) pela importante casa editora F.A. Brockhaus.)

Meu amigo.

Julio Diniz é um pseudonymo. Ocultou por muito tempo o nome de um dos mais poderosos talentos da geração moderna. Os romances firmados com aquelle modesto nome são a corôa mais brilhante da literatura romantica em Portugal. Não imitou ninguem; não teve ainda imitadores. Appareceu no meio de uma literatura sem significação, ridiculo arremèdo da orgia literaria da França; literatura sem inspiração e sem arte, sem sciencia nem consciencia, sem sentimento, corrompida, gasta, inutil... e elle, immaculado d'esta heresia da arte, espiritualista no meio do materialismo mais grosseiro, inspirado do sentimento do bello, do verdadeiro e do bom, que era o seu culto, que estava gravado na sua alma, entre escriptores para quem o bello era um engenhoso absurdo, que consideravam o verdadeiro a exhibição a nú das torpezas do vicio, que julgavam ser o bom a representação do mal, mas o mal, revestido de attractivos, romantisado, seductor; elle Julio Diniz, incognito, faz-se ler, é admirado, produz enthusiasmo, é preconisado o primeiro romancista portuguez.
E entretanto, para maior gloria do auctor, o publico não sabe quem seja; e elle  proprio, quando todos o buscavam, assistindo ignorado ao seu triumpho, não se revela, nem por um gesto se denuncia.
É que Julio Diniz satisfazia uma necessidade do seu espirito, escrevendo; obedecia á sua natural modestia, ocultando-se.
Por fim, alguns raros amigos, senhores do segredo, cedendo a um generoso impulso, desvelaram-lhe o nome. Era Joaquim Guilherme Gomes Coelho, moço de 26 annos, formado na Escola medico-cirurgica do Porto, onde pouco depois devia occupar um logar distincto como professor. A esta revelação succedeu, por um lado, o jubilo; por outra parte, o pasmo. Conheciam-n'o todos: e, apesar das distincções recebidas nas aulas, ninguem nunca adivinhara n'elle o peregrino talento, que é hoje uma das primeiras glorias literarias de Portugal.
Publicara o romance As Pupillas do Senhor Reitor, indisputavelmente a joia mais preciosa, a flôr mais delicada da sua corôa literaria. O publico, juiz de cem cabeças e cem sentenças, tinha tido d'esta vez uma só opinião: que o romance era admiravel! É. Só o auctor duvidava da justiça do veredictum.
Procurou-me um dia. Haviam-lhe pedido para reproduzir o romance em volume; queria que eu lhe dissesse se elle merecia as honras de apparecer em livro. O caracter de Gomes Coelho era tam sincero, tam leal, tam nobre, que ninguem podia suspeital-o capaz de uma impostura. Mas era um homem de genio, e, como tal, nem tinha a consciencia do seu grande talento, nem do merito dos seus escriptos. Quiz demonstrar-lh'o eu. Apesar de todas as resistencias, trouxe comigo para Lisboa o original do romance e apresentei-o a Alexandre Herculano, o nosso primeiro literato, aquelle cuja opinião tinha mais auctoridade e mais valia. E o Mestre, em quem todos os verdadeiros talentos encontravam sempre um admirador sincero e enthusiasta, auctorizou-me a dizer a Julio Diniz, que elle o considerava - o primeiro talento da geração moderna, e o seu romance o primeiro romance portuguez d'este seculo.
Pobre moço! pouco tempo tinha de sobreviver aos seus triumphos successivamente alcançados pela publicação d'outros romances. Ferido de uma tysica que o não illudia e por isso o trazia amargurado, buscou nas letras allivio á tristeza que lhe ia na alma, e na mudança de clima lenitivo ao mal que lhe devorava os pulmões.
Voltando da ilha da Madeira, disse-me: - Não torno lá. Para que hei de andar fugindo á morte? Para viver mais um anno, mais alguns meses, assistindo diariamente a uma agonia lenta, e chorando na alma a cada passo que encontro aquelles que amo e hei de perder para sempre? Já basta: é melhor morrer.
E morreu, na edade de 33 annos (*), deixando de lucto as letras portuguezas e vago um logar que difficilmente se preencherá.
Ahi tem, meu Amigo, o que julguei dever dizer-lhe do auctor d'As Pupillas do Senhor Reitor. O publico allemão, a quem sujeita o livro, não precisa da minha opinião: é juiz mais competente. E como sei que o romance ha de causar ahi, ou onde quer que fôr lido, a mesma sensação que produziu entre nós, quiz que os homens de letras da Allemanha soubessem que, se a obra vale muito, o auctor valia, como homem, talvez mais ainda.
Sou, meu caro sr. Brockhaus, seu

Am.o e Ven.or

A. Soromenho (**)

Lisboa, dezembro de 1874.


(*) Aliás 32 incompletos. Editor.
(**) Notavel orientalista e erudito professor do curso superior de letras, já fallecido. Editor."


(Fonte: Julio Diniz. AS PUPILLAS DO SENHOR REITOR, Chronica da Aldeia. 21ª Edição. Lisboa, J. Rodrigues & C.ª, Editores, 186 - Rua Aurea - 188, 1920.) 


Na cidade ou na aldeia...


"... onde se vive melhor?" 


Utilizando critérios etnológicos, Moisés Espirito Santo faz o diagnóstico da cultura portuguesa:

"Não tem o germe da cultura urbana (...).
Os Portugueses só serão de facto «como os europeus» quando forem capazes aos dezasseis anos de viverem num lar de jovens trabalhadores situado a quinhentos quilómetros do lugar onde nasceram, mudarem de casa como mudam de trabalho, e quando 50% deles viverem sós (...) como nos meios urbanos da Europa. É neste cadinho - para alguns um inferno - que nasce a cultura urbana. Até lá é-se rural ou ruralista.
Se a questão se refere à qualidade das coisas, «couves do quintal», «ovos das galinhas à solta», «ar puro», «água do poço» e outros clichés de aldeia, tudo desaparece sob a massa igualitaria do suburbio. Perderam-se a diferença, a convivialidade aldeã e a qualidade dos campos que o capitalismo europeu preserva afincadamente, e não se vive melhor nas cidades. Não somos rurais nem urbanos.
Somos rurais emigrados «comme un arbre dans la ville», somos rurbanos."

 (Moisés Espirito Santo, in «As Noites de Sociologia». Sociologia - Problemas e Práticas, Nº 8, 1990.)



 Continuamos rurais ou ruralistas, melhor «rurbanos»?


O que mudou nos últimos 20 anos?

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

São Martinho



E lá vem o verão de São Martinho!
Que ele traga, também, 
muita castanha e vinho
e uma capa generosa
pra partilhar com carinho :)







Lenda de São Martinho


Num dia tempestuoso
ia São Martinho,
valoroso soldado,
mais seu bravo cavalo
pelo seu caminho.

Quando viu um pobre,
nu de frio...
Estendendo a mão 
enregelada,
carcomida e despida,
mendigante e suplicante.

São Martinho nele poisou
a sua mão, com carinho,
e com a espada cortou
sua capa de soldado.
Metade deu ao pobre,
com outra metade ficou.

E seguindo o seu caminho,
tão cheio de felicidade,
nem se importou
com a chuva que caía
e que logo todo o molhou.

Eis quando
um forte sol de verão, 
o abraçou!
Desfazendo a tempestade,
e a terra, de luz e calor, inundou.

Diz-se desde então
que todos os anos
pelo 11 de Novembro,
ou antes ou depois,
cessa o frio e volta o sol
brilhando mais um bocadinho,
pra aquecer a nossa alma
e lembrar o São Martinho.

 
(Maria, Adaptação em verso da «Lenda de São Martinho», 8-11-2012)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Invisível para os olhos...


"O essencial é invisível para os olhos."
(Antoine de Saint-Exupéry in «O Principezinho»)





A não ser que os olhos vejam sem poeiras... o coração.


 


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sabedoria ingénua... II




Com gente sempre em movimento...



"O menino sabia que a Lua é habitada por pessoas muito inteligentes? (com «muita cabeça», era a sua expressão).
- Porquê?, retorquiu o rapaz, boquiaberto.
- Então, não se vê que a organização é tal que, tanta gente que deve caber na lua cheia, vai sendo metida em terras mais pequenas à medida que ela vai diminuindo?
Aquela gente anda sempre em movimento."


(António Lopes Pires Nunes in «Lendas, Mitos e Ritos de Penha Garcia, uma Vila Templária» de Portugal. Ed.CMIN, Outubro/2006)







quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sabedoria ingénua... I



De outras terras com história, antigos castelos templários e estranhas luas...


"O «Cego», velho invisual de nascença, era uma figura muito conhecida da Penha Garcia de há cinquenta anos.
Passava os dias à Porta da Vila interpelando as pessoas e ensinando «os rapazes ignorantes».
- Menino, disse uma vez, como está hoje a Lua? Tem os cornos para cima ou para baixo?
- Para baixo, respondeu o rapaz.
- Então, vai chover. A Lua é como um caldeiro: quando tem os cornos para cima, segura a água; mas se os tem para baixo, deixa entorná-la."

(António Lopes Pires Nunes in «Lendas, Mitos e Ritos de Penha Garcia, uma Vila Templária» de Portugal. Ed.CMIN, Outubro/2006)







quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Castelos na lua...


Imagem: Castelo na Lua


Eu um dia construí
castelos na lua,
De tão imensos que são
voaram da minha mão...

Se por acaso disserem:
mas a lua não tem castelos...
Acreditem que eu consegui,
plantá-los no seu coração!




Maria, «Castelos na Lua»

sábado, 6 de outubro de 2012

Tesouro



Dentro de mim me quis eu ver,
e, dobrada em duas, reparei...
Que a vida em mim me chamava
pra terra-mãe que eu amava.


domingo, 29 de julho de 2012

Arriba!




Fui à Costa

 procurar

uma

capa rica...


 Capa

escondida,

Em fóssil arriba

achei!

 
Bem perdida,

junto ao mar...




 De azul

salpicada,

Sob o luar... 

Gaivotas 

beijando,

Areias salgadas

remoinhadas...  
 

Arriba, fica!


(Maria, «Arriba», 28-07-2012)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Feliz Dia dos Avós!







Avós, quem os tem,
que nunca os esqueça!
Porque pais, duas vezes,
a mão e o coração
Nos embalam, em criança.
E pela vida fora...
Quando já foram embora,
em lembrança venturosa...






(Maria, «Avós», 26-07-2012)




sexta-feira, 6 de julho de 2012

Namastê

"Dada a dimensão da escala da vida no cosmos, uma vida humana não é mais do que um pontinho minúsculo.
Cada um de nós é apenas um visitante neste planeta, um convidado, que vai permanecer por um tempo limitado.
Que maior loucura pode haver, ao gastarmos esse curto tempo sozinhos, infelizes ou em conflito com os outros?
Com certeza que seria muito melhor usarmos o nosso tempo, aqui, para vivermos uma vida com significado, enriquecida pelo nosso senso de conexão com os outros e estarmos ao seu serviço...
Eu acredito que as pessoas podem fazer a diferença.
Dado que períodos de grande mudança, como aquele em que vivemos actualmente, raramente acontecem na história humana, cabe, a cada um de nós, fazer o melhor uso do seu tempo, para ajudarmos a criar um mundo mais feliz."

(His Holiness the 14th Dalai Lama, Tenzin Gyatso)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Higgs


A quatro de Julho anunciado...


Um imenso bosão,
apanhado!
Higgs, de seu nome,
batizado!


E levemente abre a porta...


Aos cegos 96,
que os 4 à mostra não são cem!



       E os mistérios do Universo... 


       Em matéria visível rolam,
       e as forças que os ligam
       Aos olhos de quem vê,
       será escuro, será claro?


       Um passo em cada partícula
       Para quem crê...




Maria, «Higgs» (Lisboa, 4 Julho 2012)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Imagine


Um banco de jardim
sarapintado pelo tempo.
Dois velhos parados,
olhares envergonhados.
Dois jovens debruçados
em caixote,
De restos encontrados...

Sob bandeiras em janelas,
sob Eras também...
Sob 40 ardentes,
em dia de suão.

Dois velhos sentados
e andantes também...
Miram e desviam,
à vez,
O olhar incomodado
com o lixo virado.
Numa rua qualquer
de um país amargurado...

Bandeiras arqueadas
em casas, içadas,
D'outras eras resgatadas
a ruas engalanadas.

Dois jovens
Dois velhos
Um banco de jardim...
Um coração despedaçado 
em bandeiras levantadas
numa crença sem fim...

A alma rolando
numa bola,
Que sim, que sim!
Nos pés de génios, querubim.
No meu jardim...


Maria, «Imagine» (Lisboa, 2012)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cri ança



"Todos temos uma criança alegre, curiosa, vivaz dentro de nós, mas poucos a deixam respirar. Devemos pensar como adultos, mas sentir, ser curiosos e aventurarmo-nos como uma criança. Quem asfixia a sua emoção envelhece no único lugar que deveria ser sempre jovem. ...                           
Sem riscos, os poetas não escreveriam poesia, as crianças não seriam criativas, os cientistas não seriam inventivos, os empresários não seriam empreendedores. ... Sem riscos, não conheceríamos o sabor das derrotas nem o paladar das vitórias. Não erraríamos, não choraríamos, não pediríamos desculpas... não teríamos necessidade da humildade..."                                                            
(Augusto Cury in Mentes Brilhantes, Mentes Treinadas)

sábado, 19 de maio de 2012

Um bom ano de espiga!


Que nunca falte a espiga em cada lar,
com muita oliveira,
regado de alecrim,
papoilas, malmequeres e videiras...

E outras plantas mais.
      











(Maria, «Dia da Espiga 2012»)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Berço





Quando eu era bem menina
escrevia sem parar,
Dançava com as palavras
em histórias de encantar.







Viajava nas estrelas,
rabiscava a minha ardósia...
E quando o ponteiro acabava
e as palavras se esfumavam,
Pensava...
Voariam na próxima vaga!
Mais longe que os meus pés,
descalços, na terra molhada.





Amparada,
entre as mãos dessa ardósia encantada...







Com as palavras salpicava,
a terra semeada.






Maria, «Berço» (Lisboa, 2012)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O tempo do Papalagui


"O Papalagui tem também uma paixão por algo que não se
consegue agarrar mas que ainda assim existe: o tempo.
Leva-o muito a sério e diz todo o tipo de tolices sobre ele.
Embora nunca venha a haver mais tempo entre o nascer e
o pôr do sol, para ele este não é suficiente.
O Papalagui nunca está satisfeito com o seu tempo e
culpa o Grande Espírito por não lhe dar mais...
o tempo está lá, mas ele parece incapaz de o encontrar."

(Tuiavii de Tiavéa, Papalagui)