quinta-feira, 28 de março de 2013

Ao Teatro... Gil Vicente



No Dia Mundial do Teatro,
recordando Gil Vicente...






Fundador do teatro literário português, Gil Vicente nasceu em 1465 (data provável) e faleceu em 1540 (data limite).

Sobre Gil Vicente, André de Resende (seu contemporâneo) dizia ser autor e actor muito hábil em dizer verdades disfarçadas em facécias e em criticar costumes entre leves gracejos.

Num texto que data de 1522, Gil Vicente distingue três categorias nas suas obras: comedias, farças y moralidades. Anteriormente a Gil Vicente, as representações eram simples e serviam para marcar festividades religiosas. Na corte também havia pequenas representações improvisadas: os momos.




Entre a vasta produção de Gil Vicente, o Auto da Lusitânia, representado em 1532 para o rei D. João III, como homenagem ao nascimento do seu filho, o príncipe D. Manuel, nascido em Dezembro de 1531. 
Composto por duas partes, exemplo acabado de teatro no teatro, o Auto da Lusitânia é o primeiro caso conhecido no teatro português em que tal prática se encontra plenamente realizada. (...)
Em sentido estrito, em Lusitânia há uma mudança de nível dramático com instauração de uma nova acção.
A segunda parte de Lusitânia aborda a origem mítica de Portugal:
"Da união entre a ninfa Lisibea e o Sol nasce Lusitânia, que herda a beleza materna. Lusitânia desperta em Portugal, um caçador grego, profundo interesse. A ninfa sente ciúmes da filha, morre, e é enterrada no local onde se veio a edificar a cidade de Lisboa. Assiste-se posteriormente ao casamento de Portugal com a princesa Lusitânia."
Naquella cova Sebilaria, muyto sabio & prudentissimo Senhor, o autor foy ensinado que ha tres mil annos que hua generosa ninfa chamada Lisibea, filha de hua Raynha de Berberia, & de hum Principe marinho que a esta Lisibea os fados deram por morada naquellas medonhas barrocas que estam da parte do Sol ao pee da Serra de Sintra que naquelle tempo se chamava a Serra Solercia. E como por vezes o Sol passasse polo opposito da lustrante Lisibea, & a visse nua sem nenhua cubertura, tam perfeyta em suas corporaes proporções, como fermosa em todolos lugares de sua gentileza; ouve della hua filha tam honrada de sua luz, que lhe pozeram nome Lusitania, que foy diesa & senhora desta provincia. Neste mesmo tempo avia na Grecia hum famoso cavaleyro & muy namorado em estremo & grandissimo caçador, que se chamava Portugal, o qual estádo em Ungria ouvio dizer das diversas & famosas caças da Serra Solercia, & veyoa buscar. E como este Portugal, todo fundado em amores, visse a fermosura sobre natural de Lusitania, filha do Sol, emproviso se achou perdido por ella. Lisibea sua madre de desatinada ciosa, morreo de ciumes deste Portugal. Foy enterrada na montanha que naquelle tempo se chamava a Felix Deserta: onde depois foy edificada esta cidade, que por causa da sepultura de Lisibea lhe pozeram nome Lixboa. Neste presente auto entraraa primeyramente Lisibea, & Lusitania, & Portugal em trajos de caçador, & Mayo messageyro do Sol, & depois Mercurio com certas diesas. E porque o autor sapressa pera vos representar o argumento que naquelle tempo passaram, Lisibea grandissima ciosa com Lusitania sua filha, he razam que lhe demos lugar...

Mais info:


Biblioteca Nacional de Portugal - Digital: Gil Vicente, Obras Completas. Lisboa, 1928.

Figueirinhas Ed.: Dicionário de Literatura, Jacinto do Prado Coelho. 4.º volume.

Quimera Editores: LUSITANIA, Graça Abreu. Lisboa, 2005 (E-book) 
Wikipédia:  Auto da Lusitânia

(Maria, 27-03-2013)








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