segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

É noite, Cesário...



É noite de céu limpo.

Os astros, com olheiras,

libertam lágrimas de luz.






 IV Horas Mortas


«O tecto fundo de oxygenio, d'ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vem lagrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a chimera azul de transmigrar.

...

Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!...»

(Cesário Verde)



(Excerto do poema «O sentimento d'um occidental - IV Horas Mortas» de Cesário Verde. In O Livro de Cesario Verde: 1873-1886. Publicado por Silva Pinto. Lisboa, 1887, p.66. Biblioteca Nacional Digital)



José Joaquim Cesário Verde, poeta português, nasceu em Lisboa a 25 de Fevereiro de 1855.  Faleceu a 19 de Julho de 1886, aos 31 anos. Os seus versos foram reunidos em livro (O Livro de Cesário Verde), um ano após a sua morte, por Silva Pinto.


(Maria, 25-02-2013)






domingo, 24 de fevereiro de 2013

Ao teu encontro, David...



Um poema sobre o amor. 
Espiritual, poderoso, eterno.
A união dos elementos no amor,
em viagem de beleza, de vida,
mas também de incerteza...
Que a memória não apagará,
num encontro depois da morte,
transitória...




Praia do encontro
«Esta imaginação de sal e duna,
inquieta e movediça como areia,
ergue, isolada, a praia, mais a espuma
que sereia nenhuma
saboreia...

Quisesses tomar tu este veleiro,
que em secreto estaleiro construí,
sem velas, sem cordame, sem madeira,
- mas branco!, e todo inteiro
para ti...

Brilha uma luz de morte sobre o porto
saído mesmo agora da memória...
Ali estarei, à tua espera, morto,
ou vivo em minha morte
transitória...

Combinado. Que eu juro não faltar!
Contrário de Tristão, renascerei,
se pressentir, aérea, sobre o Mar,
a sombra singular
do barco que te dei.»

(David Mourão-Ferreira)


(David de Jesus Mourão-Ferreira, escritor, crítico literário, ensaísta, poeta e ficcionista, nasceu em Lisboa a 24 de Fevereiro de 1927. Faleceu na sua cidade natal a 16 de Junho de 1996, aos 69 anos.)

Maria, 24-02-2013


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Tempo de Imbolc...



É tempo de Sol a crescer.
Tempo para renascer,
sentir o ar a aquecer
e a primavera a chegar.

É tempo para recomeçar.
Tempo para semear,
dar o melhor.
E sempre acreditar
que da terra geada,
escondendo o nada,
o novo vai despertar.

       
Maria, 2-02-2013