sábado, 30 de março de 2013

Feliz Páscoa!



Desejo a todos uma Feliz Páscoa.
Para além de crenças, ou de formas de celebração
para que aquilo em que acreditamos
e o nosso renascer
não nos abandone nunca.
E sobretudo nesta época
em que a Terra e a Natureza
despertam para uma nova vida.

Com carinho:

Feliz Páscoa! abraços
Buona Pasqua! abbracci
Feliz Pascua! abrazos
Joyeuses Pâques! câlins
Happy Easter! hugs
Frohe Ostern! umarmung
Hyvää Pääsiäistä! halauksia
Καλό Πάσχα! αγκαλιές
...
Maria

"Eostre, Ostara, deusa da fertilidade, do renascimento, deusa da aurora, da Primavera, da ressurreição da Terra, na mitologia nórdica e anglo-saxónica.
Os festivais da Primavera na mitologia nórdica relacionam-se com Frigg ou Frigga (Deusa-Mãe, esposa de Odin), com Eos (deusa grega do amanhecer), Astarte (deusa fenícia) ou, ainda, Ishtar (deusa babilónica).

Dos cultos pagãos nasceu a Páscoa, Pessach do hebraico; Pascha em latim; Πάσχα (Páskha) do grego; Pasqua em italiano; Pascua em espanhol; Pâques do francês; Páskar do islandês; Easter em inglês; Ostern em alemão ...

A festa da Páscoa passou a ser um evento religioso cristão após a última ceia de Jesus Cristo com os Apóstolos, na Quinta-Feira Santa. Depois da sua morte, por crucificação (na Sexta-Feira Santa), celebra-se a ressurreição de Cristo (no Domingo).
Um ritual de passagem da morte para a vida.


O Domingo de Páscoa é determinado pelo antigo sistema de calendário lunar, que o coloca no primeiro domingo, após a primeira Lua Cheia do Equinócio da Primavera, no Hemisfério Norte, ou do Outono, no Hemisfério Sul."

Em 2013, o Equinócio foi no dia 20 de Março e a primeira Lua Cheia, depois dele, ocorreu neste último dia 27. Por isso festejamos a Páscoa amanhã, dia 31 de Março, Domingo.

"Os antigos povos nórdicos comemoravam o Festival de Eostre (nome da Deusa) no dia 30 de Março.

Segundo a lenda e a tradição pagã, a Deusa, sempre rodeada de crianças, transformou um pássaro em lebre, para sua grande alegria.
Com o tempo, porém, a lebre ficou infeliz pois já não podia voar nem cantar.
Tentando desfazer o encantamento, a Deusa não o conseguiu. Esperou então até o Inverno passar, uma vez que nesta estação do ano o seu poder diminuía.

Assim o pássaro ficou lebre até que a Primavera chegou...

A Deusa conseguiu então transformar a lebre novamente em pássaro. Agradecido, o pássaro pôs ovos em sua homenagem, pintou-os e distribuiu-os pelo mundo.
Ficou assim a tradição de se oferecerem ovos decorados na Páscoa, costume que veio até aos nossos dias.


A lebre é muito conhecida pelo seu poder gerador e o ovo é símbolo de fertilidade e vida.
Dizia-se que se deviam pintar os ovos com símbolos equivalentes aos nossos desejos, mas um deveria ser enterrado, como presente para a Mãe-Terra. É o Ovo Cósmico da Vida, a fertilidade da Mãe-Terra.


E desde então, a Lebre de Eostre pode ser vista na Lua Cheia para relembrar às pessoas as consequências do "acto de interferir no livre-arbítrio de alguém".


 


Mais info:

Observatório Astronómico de Lisboa:
Domingo de Páscoa
Wikipedia:
Páscoa  Pessach  Mitologia Nórdica  Eostre  Ostara  Eos  Astarte  Ishtar  Frigga 
                                                                   Maria, 30-03-2013 / 19-04-2019 (Act.)

quinta-feira, 28 de março de 2013

Ao Teatro... Gil Vicente



No Dia Mundial do Teatro,
recordando Gil Vicente...






Fundador do teatro literário português, Gil Vicente nasceu em 1465 (data provável) e faleceu em 1540 (data limite).

Sobre Gil Vicente, André de Resende (seu contemporâneo) dizia ser autor e actor muito hábil em dizer verdades disfarçadas em facécias e em criticar costumes entre leves gracejos.

Num texto que data de 1522, Gil Vicente distingue três categorias nas suas obras: comedias, farças y moralidades. Anteriormente a Gil Vicente, as representações eram simples e serviam para marcar festividades religiosas. Na corte também havia pequenas representações improvisadas: os momos.




Entre a vasta produção de Gil Vicente, o Auto da Lusitânia, representado em 1532 para o rei D. João III, como homenagem ao nascimento do seu filho, o príncipe D. Manuel, nascido em Dezembro de 1531. 
Composto por duas partes, exemplo acabado de teatro no teatro, o Auto da Lusitânia é o primeiro caso conhecido no teatro português em que tal prática se encontra plenamente realizada. (...)
Em sentido estrito, em Lusitânia há uma mudança de nível dramático com instauração de uma nova acção.
A segunda parte de Lusitânia aborda a origem mítica de Portugal:
"Da união entre a ninfa Lisibea e o Sol nasce Lusitânia, que herda a beleza materna. Lusitânia desperta em Portugal, um caçador grego, profundo interesse. A ninfa sente ciúmes da filha, morre, e é enterrada no local onde se veio a edificar a cidade de Lisboa. Assiste-se posteriormente ao casamento de Portugal com a princesa Lusitânia."
Naquella cova Sebilaria, muyto sabio & prudentissimo Senhor, o autor foy ensinado que ha tres mil annos que hua generosa ninfa chamada Lisibea, filha de hua Raynha de Berberia, & de hum Principe marinho que a esta Lisibea os fados deram por morada naquellas medonhas barrocas que estam da parte do Sol ao pee da Serra de Sintra que naquelle tempo se chamava a Serra Solercia. E como por vezes o Sol passasse polo opposito da lustrante Lisibea, & a visse nua sem nenhua cubertura, tam perfeyta em suas corporaes proporções, como fermosa em todolos lugares de sua gentileza; ouve della hua filha tam honrada de sua luz, que lhe pozeram nome Lusitania, que foy diesa & senhora desta provincia. Neste mesmo tempo avia na Grecia hum famoso cavaleyro & muy namorado em estremo & grandissimo caçador, que se chamava Portugal, o qual estádo em Ungria ouvio dizer das diversas & famosas caças da Serra Solercia, & veyoa buscar. E como este Portugal, todo fundado em amores, visse a fermosura sobre natural de Lusitania, filha do Sol, emproviso se achou perdido por ella. Lisibea sua madre de desatinada ciosa, morreo de ciumes deste Portugal. Foy enterrada na montanha que naquelle tempo se chamava a Felix Deserta: onde depois foy edificada esta cidade, que por causa da sepultura de Lisibea lhe pozeram nome Lixboa. Neste presente auto entraraa primeyramente Lisibea, & Lusitania, & Portugal em trajos de caçador, & Mayo messageyro do Sol, & depois Mercurio com certas diesas. E porque o autor sapressa pera vos representar o argumento que naquelle tempo passaram, Lisibea grandissima ciosa com Lusitania sua filha, he razam que lhe demos lugar...

Mais info:


Biblioteca Nacional de Portugal - Digital: Gil Vicente, Obras Completas. Lisboa, 1928.

Figueirinhas Ed.: Dicionário de Literatura, Jacinto do Prado Coelho. 4.º volume.

Quimera Editores: LUSITANIA, Graça Abreu. Lisboa, 2005 (E-book) 
Wikipédia:  Auto da Lusitânia

(Maria, 27-03-2013)








quinta-feira, 21 de março de 2013

Contigo... Sebastião



Hoje, Dia Mundial da Poesia, 
e sempre, 
dar-me inteiramente:

O Poeta beija tudo, graças a Deus... E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz assim: É preciso saber olhar...E pode ser, em qualquer ideia, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos... E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás...E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de sol depois de um dia chuvoso... E acha tudo importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou que os homens estavam tristes... E escreveu uns versos que começavam desta maneira: «O segredo é amar...».


(...) Viajo para povoar a minha solidão da paisagem que vou vendo e para conhecer mais gente que mereça a pena... Faço o possível por meter-me com os outros, mas não é uma aproximação tagarela... quero é descobrir o coração dos que vão comigo, senti-lo bater. (...) Andamos no mundo quase todos como se fôssemos desconhecidos uns dos outros: quero Amor, quero a mesa aberta, quero a sinceridade e o abraço. Quero estar à mesa do pobre, sem ser por atitude calculada, antes porque o coração mo pede; quero estar à mesa do rico à minha vontade. Quando o pobre não percebeu isto, eu saí; saí, quando o rico não percebeu isto.

(Sebastião da Gama, Professor e Poeta, in "Diário". Obras Completas de Sebastião da Gama, Vol.I; Coord. J.R.Ribeiro. Editorial Presença: 1ª edição, Lisboa, Fevereiro, 2011; pp.78-79

(Maria, 21-03-2013)

terça-feira, 19 de março de 2013

Meu Pai...



No dia quente em que nasci
meu pai andava por montes,
riachos e fontes,
pra cá e pra lá
em passos impacientes,
demorados e longos...

Quando eu saí
em casa entrou e me abraçou
e nunca mais me deixou,
O meu Pai.

Nem no dia, quando morria,
que comigo falou
e eu não sabia
que de mim se despedia...
Adeus, filha.

Até um dia, Pai.




(Maria, 19-03-2013)

Só! António Nobre



Memórias de uma infância feliz...


António Nobre, poeta português, nasceu a 16 de Agosto de 1867 no Porto. Faleceu a 18 de Março de 1900, na mesma cidade (Foz do Douro).
, o livro mais triste que há em Portugal, nas palavras do autor, foi a única obra publicada em vida (1892) e reeditada posteriormente.
Constitui um dos marcos da poesia portuguesa do século XIX, influenciando decisivamente o modernismo português (Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, entre outros grandes nomes), tornando a escrita simbolista mais coloquial e leve.

"Apesar de ser real o sentimento de tristeza, SÓ aparece também marcado pela memória de uma infância feliz no norte de Portugal, desenvolvendo a sua história em torno da paisagem rural e da melancolia, no passado feliz e no agora, da agonia. E sob a máscara da ironia, em certos poemas, esconde o pessimismo de uma descrença individual que retrata a sua época..."





«Viagens na Minha Terra»
Às vezes, passo horas inteiras
Olhos fitos n'estas brazeiras,
Sonhando o tempo que lá vae;
E jornadeio em phantazia
Essas jornadas que eu fazia
Ao velho Douro, mais meu Pae.

(...)

Ó Portugal da minha infancia,
Não sei que é, amo-te a distancia
Amo-te mais, quando estou só...
Qual de vós não teve na Vida
Uma jornada parecida,
Ou assim, como eu, uma Avó?


(Excerto do poema Viagens na Minha Terra in SÓ - António Nobre. Liv. Aillaud e Bertrand: Paris-Lisboa; 
Liv. Francisco Alves: Rio de Janeiro - São Paulo - Bello Horizonte. 3.ª Ed., 1913, pp. 61-65)



«Canção da Felicidade»

Felicidade! Felicidade!
Ai quem ma dera na minha mão!
Não passar nunca da mesma idade,
Dos 25, do quarteirão.

Morar, mui simples, n'alguma caza
Toda caiada, defronte o Mar;
No lume, ao menos, ter uma braza
E uma sardinha p'ra n'ella assar...

Não ter fortuna; não ter dinheiro,
Papeis no Banco, nada a render:
Guardar, podendo, n'um mialheiro
Economias p'r'o que vier.

(...)


(Excerto do poema Canção da Felicidade in SÓ - António Nobre. Liv. Aillaud e Bertrand: Paris-Lisboa; 
Liv. Francisco Alves: Rio de Janeiro - São Paulo - Bello Horizonte. 3.ª Ed., 1913, pp. 45-46)



 «Luzitania no Bairro-Latino»

1
........................................ Só!

Ai do Luziada, coitado,

(...)


Menino e moço, tive uma Torre de leite,
Torre sem par!
Oliveiras que davam azeite,
Searas que davam linho de fiar,
Moinhos de velas, como latinas,
Que São Lourenço fazia andar...
Formozas cabras, ainda pequeninas,
E loiras vaccas de maternas ancas
Que me davam o leite de manhã,
Lindo rebanho de ovelhas brancas;
Meus bibes eram da sua lã.

(...)

Menino e moço, tive uma Torre de leite,
Torre sem par!
Oliveiras que davam azeite...
Um dia, os castellos cairam do Ar!

As oliveiras secaram,
Morreram as vaccas, perdi as ovelhas,
Sairam-me os Ladrões, só me deixaram
As velas do moinho... mas rotas e velhas!

Que triste fado!
Antes fosse aleijadinho,
Antes doido, antes cego...

Ai do Luziada, coitado!

(...)

2

Georges! anda ver meu paiz de Marinheiros,
O meu paiz das Naus, de esquadras e de frotas!

(...)

3

Georges! anda ver meu paiz de romarias
E procissões!
Olha essas moças, olha estas Marias!
Caramba! dá-lhes beliscões!

(...)

Qu'é dos Pintores do meu paiz estranho,
Onde estão elles que não vêm pintar?


(Excerto do poema Luzitania no Bairro-Latino in SÓ - António Nobre. Liv. Aillaud e Bertrand: Paris-Lisboa; 
Liv. Francisco Alves: Rio de Janeiro - São Paulo - Bello Horizonte. 3.ª Ed., 1913, pp. 25-35)





Nos últimos anos de vida, António Nobre empreendeu uma dolorosa peregrinação, entre sanatórios na Suiça, na Madeira, em Lisboa, a casa da família no Seixo... tendo falecido aos 32 anos, com tuberculose, perto da paisagem rural e melancólica da sua infância feliz.


Mais info:

Biblioteca Nacional de Portugal - Digital: SÓ, António Nobre

Centro Virtual Camões: Figuras da cultura portuguesa, António Nobre


(Maria, 18-03-2013)



quarta-feira, 13 de março de 2013

Moinho de vento...



E assim nas asas do vento
Gira, a entreter a imaginação,
Esse moinho do tempo
Que me embala pra outra dimensão.







(Maria, 13-03-13)

terça-feira, 12 de março de 2013

Fernão, Mentes? Minto...



Tão espantosas são as coisas que contas...








"E nisto vieram a parar meus serviços de vinte e um anos, nos quais fui treze vezes cativo e dezasseis vendido, por causa dos desaventurados sucessos que atrás, no discurso desta minha tão longa peregrinação, largamente deixo contados..."

(excerto de "A Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto)



Viajante, aventureiro, explorador e escritor português do século XVI, Fernão Mendes Pinto nasceu por volta de 1509/1511 (*), no seio de uma família pobre da «vila de Montemor-o-Velho», e faleceu no Pragal, Almada, a 8 de Julho de 1583.

Sabemos que veio para Lisboa em 1521 (**) e, em Março de 1537, inicia a sua fantástica Peregrinação, partindo para a Índia. Alcançou a barra de Diu, em Setembro desse mesmo ano, e poucos dias depois ia a caminho do Mar Vermelho, dando início a um percurso épico e atribulado, espelho do que foi a vida de muita gente lusa, deambulando pelas terras do Oriente do século XVI.

Fernão Mendes Pinto é um exemplo dessa diáspora lusa, navegando daqui para ali, comprando e vendendo o que havia, e sonhando com o regresso à sua terra. 

Por mais de vinte anos percorreu os mares do Oriente, passando por Pegu, Sião, Malaca, Samatra, Java, China e Japão.

Deixou-nos um relato de todas estas viagens e aventuras, a que chamou "Peregrinação". 
A sua obra tem sido alvo de considerações e críticas diversas, contestando os factos descritos e acusando-o de efabulação. Daí o trocadilho com o nome do autor (Fernão, Mentes? Minto.).

Peregrinação é, também, um testemunho da vida nos mares do Oriente, no século XVI: as noites de chuva, o vento que rasga as velas, as amarras que partem, as vagas que varrem o convés, o sono, o cansaço, a fome, o medo, são elementos legítimos e verdadeiros da narrativa, tão intensos como a própria realidade.

Talvez que o julgamento da sua obra como mentirosa e o trocadilho com o nome do autor possam ser melhor compreendidos à luz das espantosas, notáveis e estranhas coisas que viu e que conta, e da descrença que provocavam em todos aqueles que nunca tinham viajado. E também pelo incómodo causado com a sua descrição de reinos, terras e gentes do Oriente...

Escreveu este magnífico texto quando já vivia na sua Quinta do Pragal, onde passou os últimos 25 anos da sua vida e onde veio a falecer.


(*) "Assim situam o seu nascimento a maioria dos biógrafos, baseados no que o autor nos diz na sua obra, ao afirmar que tinha 10 ou 12 anos quando morreu o rei D. Manuel I, no dia de Santa Luzia, em 13 de Dezembro de 1521."

(**)  "Conforme recorda o autor, porque um seu tio o trouxe para Lisboa no dia em que «se quebraram os escudos pela morte de El-Rei...»."


Mais info

Biblioteca Nacional de Portugal - Digital Peregrinação

CVC - Instituto Camões Biblioteca Digital Camões Fernão Mendes Pinto, Sátira e Anti-Cruzada na Peregrinação (Autor: Rebecca Catz)
 
(Maria, 12-03-2013)