segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Eu conheço um Poeta... Plural como o Universo!




"Nas faldas do Himalaia o Himalaia é só as faldas do Himalaia.
É na distância, ou na memória, ou na imaginação que o Himalaia é da sua altura,
ou talvez um pouco mais alto."



Imagem: Paisagem de Montanhas



Eu conheço um Poeta,
"PluraL como o Universo",
que viveu noutro milénio,
do século passado,
e se foi a um 30 de Novembro.

Um Poeta de desassossegos,
íntimos, e fora de si,
escrevendo, ora em nome de personagens
que inventava, para consigo falarem,
se entenderem e acalmarem,
gentes, como Reis, Campos, Caeiro,
que depois calava,
 ora em nome de si,
sua Pessoa, que mostrava simplesmente.

Eu conheço um Poeta-publicitário,
que inventou um slogan
para uma bebida proibida,
em terras lusas,
até 74 do século passado,
e consumida, por contágio,
noutros sítios com sabor
a língua portuguesa,
porque sim.
E que dizia assim:
"Primeiro estranha-se,
depois entranha-se."
E ficou em mim.

Eu conheço um Poeta-génio,
que aspirava ao lugar de "Conservador-Bibliotecário",
num Museu-Biblioteca de Cascais,
e que sem meios,
mas cheio de palavra, cultura e documentos,
ainda assim, não serviu para esse fim.
E desesperado com a vida, numa carta
endereçada a Suas Excelências,
e respectiva Comissão Administrativa,
que representavam,
escreveu assim:

"(...) Salvo o que de competência e idoneidade
está implícito nas habilitações indicadas
como motivo de preferência (...)
e portanto se prova documentalmente
pelos documentos referentes às indicações (...),
a competência e a idoneidade não são susceptíveis
de prova documental.
Incluem, até, elementos como o aspecto físico e a educação,
que são indocumentáveis por natureza."   

Eu conheço um Poeta Universal,
que escrevia em inglês, em francês...,
e a língua portuguesa amava.
Que hoje é de todos,
e no milénio em que viveu,
era de alguns, apenas,
de si e de amigos e colegas
que espalhavam a sua poesia
e o que mais escrevia,
em fragmentos, cartas e contos
que criava e produzia,
e que irritavam, alguns,
que ouviam,
em Águias que voavam
ou em Orpheus que escandalizavam.

Eu conheço um Poeta em vida (im)publicado,
nem livro, excepto um,
nem folheto algum,
que hoje anda por todo o lado.
Sem público, por lhe faltar,
nem dinheiro seu,
que não tinha, não gastava,
nem, inutilmente, a editor fazia gastar.

Eu conheço um Poeta que gostava de dizer,
ou "melhor, de palavrar"
e escrevia, ora de pé,
ora pelas ruas vagueava,
e, de vez em quando,
numa "Brasileira" ou num "Martinho da Arcada"
se sentava.
E "Em Busca da Belleza" rabiscava.

Eu conheço um Poeta que em vida
uma "Mensagem" nos deixou,
profética, da História de Portugal,
e da Alma desse povo-mistério,
nos diz assim:
"Falta cumprir-se Portugal!"

E que sonhava:
"Passados os quatro tempos do ser,
a terra será teatro do dia claro",
da Alma, por despertar,
daquela metade que é medo,
mistério a descobrir,
cabo por ultrapassar.

Se "As nações todas são mistérios,
cada uma é todo o mundo a sós..."
"Cumpriu-se o Mar",
Falta vencer o mar imenso,
que separa as almas de todos e
de cada um de nós.
Que a Terra seja uma só!

Eu conheço um Poeta...
que nas Almas, suas,
viveu, estrela só,
"Plural como o Universo"
ainda, a brilhar pra nós.

(Maria, 30 de Novembro, de 2015)

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